terça-feira, 16 de agosto de 2011

AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS - WISLAWA SZMBORKA



Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.


Tradução: Elżbieta Milewska e Sérgio das Neves
de Alguns gostam de poesia- Antologia- Czeslaw Milosz e Wislawa Szymbroska, Cavalo de Ferro, 2004

DÁVIDA - CZESLAW MILOSZ


Um dia tão feliz.

A névoa baixou cedo, eu trabalhava no jardim.

Os colibris se demoravam sobre a flor de

[ madressilva.

Não havia coisa na terra que eu quisesse

[ possuir.

Não conhecia ninguém que valesse a pena

[ invejar.

O que aconteceu de mau, esqueci.

Não tinha vergonha ao pensar que fui quem sou.

Não sentia no corpo nenhuma dor.

Me endireitando, vi o mar azul e velas.

COMPLETAS - MANUEL A, PINA



A meu favor tenho o teu olhar
testemunhando por mim
perante juízes terríveis:
a morte, os amigos, os inimigos.

E aqueles que me assaltam
à noite na solidão do quarto
refugiam-se em fundos sítios dentro de mim
quando de manhã o teu olhar ilumina o quarto.

Protege-me com ele, com o teu olhar,
dos demónios da noite e das aflições do dia,
fala em voz alta, não deixes que adormeça,
afasta de mim o pecado da infelicidade.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011