terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A arte de perder

Acabei de ler esse poema e simplesmente adorei. Confiram!!!!


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A arte de perder não é nenhum mistério;

tantas coisas contêm em si o acidente

de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,

a chave perdida, a hora gasta bestamente.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Depois perca mais rápido, com mais critério:

lugares, nomes, a escala subseqüente

da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero

lembrar a perda de três casas excelentes.

A arte de perder não é nenhum mistério.


Perdi duas cidades lindas. E um império

que era meu, dois rios, e mais um continente.

tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

— Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo

que eu amo) não muda nada. Pois é evidente

que a arte de perder não chega a ser mistério

por muito que pareça (Escreve!) muito sério.


BISHOP, Elizabeth. O iceberg imaginário e outros poemas. Tradução de Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. p. 30

4 comentários:

do avesso disse...

Amo esta poesia. Tem outras traduções interessantes. Um beijo cheio de saudades.

Tania Aires disse...

Oi, obrigada pela observação. Abraço.

Jeferson Cardoso disse...

Fantástico o texto que escolheu, Tania. Penso que, em verdade, existe nele uma alma de desprendimento ocasionada com o confronto do pensamento de que nada possuímos de fato.

Abraço do blogueiro Jefhcardoso do http://jefhcardoso.blogspot.com/

Tania Aires disse...

Obrigada, Jefhcardoso, pela visita e pelo comentário.