No Brasil, 11,5% das crianças de oito e nove anos são analfabetas, segundo o IBGE. O percentual supera a média nacional entreadultos, de 10%. No Nordeste, o índice infantil vai a 23%.
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sábado, 25 de julho de 2009
Analfabetismo Infantil
No Brasil, 11,5% das crianças de oito e nove anos são analfabetas, segundo o IBGE. O percentual supera a média nacional entreadultos, de 10%. No Nordeste, o índice infantil vai a 23%.
Millôr Fernandes
terça-feira, 21 de julho de 2009
Duas questões lusitanas
Minha proposta herética de que textos literários brasileiros e portugueses sejam traduzidos lá e aqui provocou uma interessante reação de alguns leitores, majoritamente contra a tresloucada ideia. Volto ao tema para situar um pouco melhor meu próprio ponto de vista, que se afirmou com excessiva ligeireza. Uma leitora bem-humorada frisou que quem lê para se “sentir em casa” devia “restringir-se aos rótulos de Sucrilhos e às listas de compras do sacolão”. Certíssima, a leitora. Eu deveria ter acrescentado no meu texto que o leitor gosta de sentir-se linguisticamente em casa. É o charme de um verso como “Tinha uma pedra no meio do caminho”, por exemplo, ou de uma tradução bem feita de um autor chinês ou sueco. Uma das regras universais da boa tradução é que só se usem notas de rodapé em último caso, quando não haja mesmo uma expressão equivalente na língua do leitor. No mais, tudo pode ser o bom estranhamento que é a alma da boa literatura, desde que a língua entre autor e leitor seja comum.
Outros lembraram Raquel de Queiroz, aqui, e Saramago, lá, como exemplos de recusas indignadas a mudar o texto no outro país. Mas é uma fantasia persecutória imaginar que o texto estaria sendo violentado por algozes cruéis, censores terríveis a corromper a força “autêntica” da linguagem, como se uma tradução lá destruísse para sempre a edição original impressa no Brasil e à disposição dos brasileiros – e vice-versa. Que seja publicado em russo, em alfabeto cirílico, tudo bem – mas trocar, digamos, “Mas a minha menina está tão linda!” por “Ai que a minha cachopa está tão gira!”, nem pensar! Essa atitude tem uma raiz mais psicológica que linguística – e o resíduo de um complexo de colonizador e colonizado certamente exerce um papel nesse horror à tradução luso-brasileira. Além do visível desejo político de que falemos a mesma língua.
Claro, há aqui algumas premissas inescapáveis da ideia: falo de prosa contemporânea, não de clássicos e nem de poesia, que têm um outro registro – no caso dos clássicos, um registro único. E o pressuposto fundamental é que se trata de duas línguas hoje literariamente distintas, e não apenas de diferenças acidentais de vocabulário. Se estou errado nesse ponto, retiro toda minha argumentação. Sim, do ponto de vista instrumental, são praticamente a mesma língua (e por isso me agrada o conceito do acordo ortográfico); mas não se faz literatura viva com língua instrumental.
A propósito, antes que me confundam: o que digo aqui não tem absolutamente nada a ver com o recente projeto oficial, esse sim de claro matiz lusitano, de obrigar a tradução de “palavras estrangeiras” aprovado pela Assembleia, rematado exemplo de tolice linguística e de como a linguagem serve de argumento difuso para o sempre vivo desejo do Estado, e não só dele, de “vigiar e punir” a língua alheia.
Cristovão Tezza é escritor.
Deixemos a língua em paz!
Quando uma autoridade apresenta projetos de regulação do uso social da língua, eu logo me assusto. E me assusto, em primeiro lugar, como cidadão. Hoje, a autoridade quer determinar como devo usar as palavras. Amanhã vai querer dizer que livros poderei ler. Depois, que músicas poderei ouvir. E, por fim, que ideias e crenças estarei autorizado a ter.
Carlos Alberto Faraco, professor titular (aposentado) de Linguística e Língua Portuguesa da UFPR, é organizador do livro Estrangeirismos: guerras em torno da língua (Editora Parábola)
domingo, 19 de julho de 2009
Raridade não é milagre
Uma escola sem alma
Todo Ponto de Vista é a Vista de um Ponto
A cabeça pensa a partir de onde os pés pisam. Para compreender, é essencial conhecer o lugar social de quem olha. Vale dizer: como alguém vive, com quem convive, que experiência tem, em que trabalha, que desejos alimenta, como assume os dramas da vida e da morte e que esperanças o animam. Isso faz da compreensão sempre uma interpretação.
Sendo assim, fica evidente que cada leitor é co-autor. Porque cada um lê e relê com os olhos que tem. Porque compreende e interpreta a partir do mundo que habita.
Petropólis: Vozes, 1999.
Os limites do capital são os limites da Terra
Data: 15/01/2009
O último Trem
PAULO MENDES DA ROCHA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Este filme de 1973 de Pierre Granier-Deferre, com Jean-Louis Trintignant e Romy Schneider, é muito comovente. É indispensável no comentário sobre as relações masculino-feminino.Diante dos horrores da última Grande Guerra e da sucessão de imprevistos, a solidariedade indispensável entre o homem e a mulher aparece de um modo imperdível. Há, ainda, uma sublime e delicadíssima visão do erotismo.Esse filme se associa à literatura como conto; poderia ser um Tchekhov ou Cortázar, pois mostra uma atemporalidade da existência humana.Um lindo contraponto, do mesmo diretor, é "O Gato".
Os detalhes
22 de março de 2009
VERISSIMO
Bom dia, madame. Posso lhe ajudar? Claro, claro, olhe à vontade. Sinta-se em casa. Só não repare na bagunça.
Ponto de vista - Thomas Mann
VEJA, Dezembro de 1941
O romancista alemão Thomas Mann, nascido em Lübeck e antigo morador de Munique, deixou seu país quando Hitler chegou ao poder, em 1933. Em 1940, Mann foi chamado a discursar aos compatriotas através da rede BBC britânica. Esta é uma das mensagens que ele transmite aos outros alemães.
A maior bênção moral que poderia ser concedida ao povo alemão é sua inclusão entre as nações subjugadas. Pois qual veredicto haveria sobre a Alemanha, e que esperanças poderiam ser depositadas nela, se os atos repulsivos que comete sob o atual regime forem cometidos voluntariamente, sob completa consciência? Na União Soviética a juventude da Alemanha, aos milhões, sangra até morrer. Enquanto isso, as quase inexauríveis forças do lado oposto crescem num mundo que queria paz, só pensava em paz, e que no início ficou impotente diante da máquina de guerra alemã.
"Se continuarem do lado de Hitler até o fim, uma vingança virá, assustadora, a todos que querem o bem do nosso país."
A Alemanha encontrará horríveis atribulações se a guerra continuar por mais um ano ou dois – e ela continuará, pois nem vocês conseguem acreditar que derrotarão a maioria da humanidade, contrária aos planos de Hitler. Alemães, não deixem chegar a esse extremo! Vocês mesmos devem derrubar o vil, indizível e degradante governo sob o qual caíram por um negro destino. Devem provar algo em que o mundo ainda se esforça para acreditar: que o nazismo e a Alemanha não são a mesma coisa. Se continuarem do lado de Hitler até o fim, uma vingança virá, assustadora, para todos os que querem o bem da Alemanha.Vejam como as nações oprimidas da Europa resistem ao mesmo inimigo que também oprime vocês! Vocês querem ser menores, mais fracos e mais covardes que os outros? Lembrem-se: as ferramentas usadas para escravizar o mundo são o produto de suas mãos, e Hitler não pode continuar sua guerra sem a ajuda de vocês. Neguem a ele suas mãos, parem de ajudá-lo! No futuro, fará uma enorme diferença se vocês mesmos eliminarem esse homem horroroso ou se isso for feito por forças externas. Apenas se vocês mesmos se libertarem terão o direito de participar da futura ordem justa e livre dos povos.
...
"A Alemanha de Dürer e Bach e Goethe e Beethoven terá um fôlego histórico maior do que a atual."
Gênio alemão - Há muita controvérsia no mundo sobre se é possível diferenciar o povo alemão das forças que o dominam hoje, e sobre se a Alemanha é capaz de se integrar honestamente a uma nova e melhorada ordem das nações, baseada na paz e na justiça, que deverá emanar desta guerra. Sempre que me perguntam isso, dou a seguinte resposta. Admito que o chamado nacional-socialismo tem longas raízes na vida alemã. É uma virulenta perversão de idéias, mas não é de forma alguma estranho à velha e boa Alemanha da cultura e educação. Antes essas idéias viviam em grande estilo; eram chamadas de "romantismo" e exerciam grande fascinação no mundo. Alguém pode muito bem dizer que elas foram por água abaixo, ou que estavam fadadas a ir por água abaixo. Combinadas à notável adaptação da Alemanha à era da tecnologia, elas constituem hoje uma mistura explosiva que ameaça a civilização como um todo. De fato, a história do nacionalismo e do racismo alemães, culminando no nazismo, é uma história longa e feia. Mas confundir essa história com a história do gênio alemão em si é um pessimismo crasso, um erro que poderia ameaçar a paz. Sou bem-intencionado e patriótico o bastante para acreditar que a Alemanha que eles amam, a Alemanha de Dürer e Bach e Goethe e Beethoven, terá um fôlego histórico maior. A outra Alemanha logo ficará sem fôlego: suas atuais bufadas e acessos de cólera não devem ser confundidas com uma grande força. Ela se esgotou, ou está prestes a se esgotar, a literalmente morrer.Sobre isso a toda esperança é baseada. É baseada no fato de que o nazismo - essa realização política de idéias que há pelo menos um século e meio vem fermentando no povo alemão e em sua intelligentsia - é algo extremo e totalmente extravagante, um experimento da máxima brutalidade e imoralidade possíveis, que não pode ser celebrado ou repetido. O abandono de toda a humanidade, a investida cega contra tudo o que une e civiliza o homem, o estupro desesperado de todos os valores e bens espirituais antes estimados também pelos alemães, a ereção do estado de guerra total a serviço do mito da raça e conquista global - não é mais possível fazer isso, não é possível levar isso adiante.
...
"O mundo precisa da Alemanha -mas a Alemanha, ao mesmo tempo, também precisa desse mundo."
Tradições na lama - Se esse experimento abortar, e ele abortará, o nacionalismo alemão, que é o mais perigoso que já existiu, terá se destruído. A Alemanha será forçada a se empenhar numa direção completamente diferente. O mundo precisa da Alemanha, mas a Alemanha, por sua vez, também precisa do mundo. Por não ser capaz de "germanizar" o mundo, ela precisará se assimilar nele, como a maior e melhor Alemanha sempre fez com amor e simpatia. Verá a necessidade de relançar luzes sobre tradições hoje jogadas na lama, mas não menos nacionais do que essas cuja perniciosidade se tornou tão patente. Elas tornarão muito fácil para a Alemanha se unir a um mundo com liberdade e justiça.A Alemanha será mais feliz do que nunca quando integrar um mundo unido, pacífico e livre, despolitizado pela evaporação das soberanias nacionais. Na verdade, a Alemanha é feita para um mundo assim. Porque se a política da força foi algum dia uma maldição e uma distorção da natureza para um povo, ela o foi justamente para o apolítico povo alemão. Um francês malicioso disse certa vez que, se um alemão quer ser gracioso, ele pula da janela. É o que faz, de fato - e com determinação ainda mais selvagem quando quer ser político. Para os alemães, a política da força significa a desumanização: o hitlerismo, esse espectral salto pela janela, prova isso. É ser orgulhoso de algo do qual os alemães jamais foram orgulhosos o bastante. Para nenhum outro povo o fim da política da força será um alívio tão grande, uma promoção tão grande de suas melhores, mais fortes e mais nobres qualidades. E justamente neste tipo de mundo que agora, com ilusório esforço, o povo alemão tenta manter inexistente, essas grandes qualidades serão capazes de se desenvolver com alegria.
Thomas Mann, 66 anos, é escritor. Vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1929, é o autor de Os Buddenbrooks, A Montanha Mágica e de Morte em Veneza.
Que significa agir?
Hannah Arendt – A condição humana
A cigarra e a formiga: a nova versão
MOACYR SCLIAR - Folha de São Paulo
Recorte de jornal em punho, foi procurar a formiga, que, nesse meio tempo, inaugurara uma financeira e agora emprestava dinheiro a juros a todos os insetos da vizinhança. A cigarra teve certa dificuldade em ser admitida no estabelecimento, mas finalmente chegou à formiga. E aí, vibrando de indignação, leu-lhe a notícia e fez um verdadeiro comício: vocês, formigas, são a vergonha do reino animal, vocês não valem nada, só pensam em forrar o bolso etc.A formiga ouvia, impassível. Quando a cigarra terminou, lembrou que o inverno estava se aproximando; portanto, se a cigarra quisesse um empréstimo, seria bom fazê-lo naquele momento -a tendência dos juros futuros era, segundo todas as previsões, de alta. Se a cigarra não quisesse o empréstimo, o caso seria mesmo dançar.
País emergente, educação submersa...
Marcos Bagno - Abril de 2009
Esses dados não seriam suficientes para escandalizar nossas classes dirigentes? Não. A história da nossa formação social mostra que, há meio milênio, as classes dirigentes brasileiras não só não se escandalizam como tiram o máximo proveito desse abismo social que separa o pequeno círculo dominante da monumental maioria de classes subalternas. Os dados do analfabetismo funcional "coincidem" com os da distribuição (distribuição?) de renda em nosso país, a mais injusta do planeta.
quarta-feira, 25 de março de 2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
Patativa do Assaré (Antônio Gonçalves da Silva)
Saudade
É qual fogo de monturo
Por fora tudo perfeito,
Por dentro fazendo furo.
Há dor que mata a pessoa
Sem dó e sem piedade,
Porém não há dor que doa
Como a dor de uma saudade.
Saudade é um aperreio
Pra quem na vida gozou,
É um grande saco cheio
Daquilo que já passou.
Saudade é canto magoado
No coração de quem sente
É como a voz do passado
Ecoando no presente.
A saudade é jardineira
Que planta em peito qualquer
Quando ela planta cegueira
No coração da mulher,
Fica tal qual a frieira
Quanto mais coça mais quer.
O texto acima foi extraído do livro "Ispinho e Fulô", editado pela Universidade Estadual do Ceará/Prefeitura Municipal de Assaré - 2001, pág. 138.
Florbela Espanca
Esquecimento
Esse de quem eu era e era meu,
Que foi um sonho e foi realidade,
Que me vestiu a alma de saudade,
Para sempre de mim desapareceu.
Tudo em redor então escureceu,
E foi longínqua toda a claridade!
Ceguei... tateio sombras... que ansiedade!
Apalpo cinzas porque tudo ardeu!
Descem em mim poentes de Novembro...
A sombra dos meus olhos, a escurecer...
Veste de roxo e negro os crisântemos...
E desse que era eu meu já me não lembro...
Ah! a doce agonia de esquecer
A lembrar doidamente o que esquecemos...!
Florbela d'Alma da Conceição Espanca tem hoje seus versos admirados em todos os cantos do mundo, diferentemente do que aconteceu quando ainda viva, época em que foi praticamente ignorada pelos apreciadores da poesia e pelos críticos de então. Os dois livros que publicou, por sua conta, em vida, foram "O Livro das Mágoas" (1919) e "Livro de "Sóror Saudade" (1923). Às vésperas da publicação de seu livro "Charneca em Flor", em dezembro de 1930, Florbela pôs fim à sua vida. Tal ato de desespero fez com que o público se interessasse pelo livro e passasse a conhecer melhor a sua obra. Dizem os críticos que a polêmica e o encantamento de seus versos é devida à carga romântica e juvenil de seus poemas, que têm como interlocutor principal o universo masculino.
Texto extraído do livro "Sonetos", Bertrand Brasil - Rio de Janeiro, 2002, pág. 181.
quinta-feira, 19 de março de 2009
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
Divórcio na Albânia revela a experiência de milhares de famílias obrigadas a se separarem no período do regime totalitário de Enver Hodja, o ditador europeu que permaneceu no poder por mais tempo no século XX.
Esse vídeo está disponível no You Tube. Recomendo
domingo, 22 de fevereiro de 2009
By José Saramago
Pudesse eu, e fecharia todos os zoológicos do mundo. Pudesse eu, e proibiria a utilização de animais nos espectáculos de circo. Não devo ser o único a pensar assim, mas arrisco o protesto, a indignação, a ira da maioria a quem encanta ver animais atrás de grades ou em espaços onde mal podem mover-se como lhes pede a sua natureza. Isto no que toca aos zoológicos. Mais deprimentes do que esses parques, só os espectáculos de circo que conseguem a proeza de tornar ridículos os patéticos cães vestidos de saias, as focas a bater palmas com as barbatanas, os cavalos empenachados, os macacos de bicicleta, os leões saltando arcos, as mulas treinadas para perseguir figurantes vestidos de preto, os elefantes mal equilibrados em esferas de metal móveis. Que é divertido, as crianças adoram, dizem os pais, os quais, para completa educação dos seus rebentos, deveriam levá-los também às sessões de treino (ou de tortura?) suportadas até à agonia pelos pobres animais, vítimas inermes da crueldade humana. Os pais também dizem que as visitas ao zoológico são altamente instrutivas. Talvez o tivessem sido no passado, e ainda assim duvido, mas hoje, graças aos inúmeros documentários sobre a vida animal que as televisões passam a toda a hora, se é educação que se pretende, ela aí está à espera.
Perguntar-se-á a que propósito vem isto, e eu respondo já. No zoológico de Barcelona há uma elefanta solitária que está morrendo de pena e das enfermidades, principalmente infecções intestinais, que mais cedo ou mais tarde atacam os animais privados de liberdade. A pena que sofre, não é difícil imaginar, é consequência da recente morte de uma outra elefanta que com a Susi (este é o nome que puseram à triste abandonada) partilhava num mais do que reduzido espaço. O chão que ela pisa é de cimento, o pior para as sensíveis patas deste animais que talvez ainda tenham na memória a macieza do solo das savanas africanas. Eu sei que o mundo tem problemas mais graves que estar agora a preocupar-se com o bem-estar de uma elefanta, mas a boa reputação de que goza Barcelona comporta obrigações, e esta, ainda que possa parecer um exagero meu, é uma delas. Cuidar de Susi, dar-lhe um fim de vida mais digno que ver-se acantonada num espaço reduzidíssimo e ter de pisar esse chão do inferno que para ela é o cimento. A quem devo apelar? À direcção do zoológico? À Câmara? À Generalitat?
P. S.: Deixo aqui uma fotografia. Tal como em Barcelona há grupos – obrigado - que têm pena de Susi, na Austrália também um ser humano se compadeceu de um marsupial vitimado pelos últimos incêndios. A fotografia não pode ser mais emocionante.
Com periodicidade bianual instalada a partir de 1981, o COLE reúne e aproxima diferentes profissionais nacionais e estrangeiros ligados ao universo do livro e da leitura como espaço de reflexão e socialização de experiências, de produção e divulgação de pesquisas e projetos educativos, de aprofundamento e entendimento das práticas culturais, de atuação e incentivo a políticas públicas. Nessa linha do tempo de mais de 30 anos, o COLE criou uma tradição de rigor naquilo que acredita e propõe para o campo da leitura no Brasil. Tanto é assim que os três últimos Coles (2003, 2005 e 2007) reuniram na Unicamp mais de 4.500 participantes inscritos e uma média de 2000 trabalhos em sessões de comunicação.
A 17ª edição, agendada para o período de 20 a 24 de julho de 2009, pretende não apenas comemorar esses 30 anos de história do COLE, mas também divulgar a história do evento em um espaço de discussão do seu itinerário no cenário cultural e educacional do Brasil e de reflexão e construção de novos caminhos de atuação e parcerias na luta pela democratização da leitura. Mais especificamente, o 17º COLE pretende ser retrospectivo, debruçando-se e refletindo sobre o vasto acervo constituído ao longo do seu percurso, e propositivo, reforçando e delineando idéias que venham a se transformar em sustentáculos para a democratização da leitura no país.
1. É melhor ser infeliz, porém estar inteirado disso, do que ser feliz e viver sendo feito idiota;
2.Se queres vencer o mundo inteiro, vence a ti mesmo;
3. E para que enganar-se? É a mais vã e imprudente dasocupações.
4. O que mais me apavora é que abeleza não só é terrível, mas também misteriosa. O demônio luta com Deus e o campo da batalha são os corações humanos.
5. Confesso-lhe que estou um tanto desapontada por você não ter se apaixonado por mim. Por aí se vê que as mulheres nunca podem acreditar nos homens!
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
Adorei essa crônica do Cristovão Tezza. Está publicada na Gazeta do Povo de Curitiba
Uma frase qualquer
Há alguns dias estive em Natal, no Rio Grande do Norte, num simpático encontro literário – ou na cidade do Natal, como as placas fazem questão de escrever. A primeira pergunta que eu ouvia onde quer que fosse era se eu já havia estado lá, e relembrei meu encontro inverossímil com aquela cidade. Sim, já estive em Natal, uma única vez, nos idos de 1977 – essas confissões acabam sempre entregando a idade –, participando de uma equipe de xadrez dos Jogos Universitários. Até aí, tudo bem. O fantástico é que fui representando o estado do Acre, que enviava orgulhosamente duas delegações, a de Handebol e a de Xadrez. O que eu estava fazendo no Acre fica para outra vez, mas guardo até hoje a surpresa de descobrir, no mapa e de fato, numa viagem interminável, com seis conexões, que o Brasil é mais largo que alto: não parece, mas a distância entre Cruzeiro do Sul, no Acre, e Natal, é maior que a distância entre o bem mais famoso eixo do Oiapoque ao Chuí, que sempre sai na fotografia. Além da aventura da viagem, recordo pouco daquele tempo – do alojamento em colchões no chão em salas de um colégio, das palavras de ordem contra a ditadura e de uma maravilhosa guerra de tomates no refeitório. Lembro também do Morro do Careca, com suas areias verticais em forma de tobogã, ou de cascata, ladeadas de mato.
Pois é exatamente o morro que eu via agora de novo, três décadas depois, curtindo minha maravilhosa mordomia de escritor convidado na varanda cinematográfica do apartamento do hotel, diante da praia com seus verdes mares bravios, aqui e ali manchados charmosamente de sargaços. Um paraíso tranqüilo, sempre com um sopro de vento para amainar o calor, e com a infalível boa culinária do Nordeste a temperar o encontro.
Estou muito longe de Curitiba, mas súbito dou com uma réplica do célebre olho do museu de Niemeyer, com seu jeitão de nave espacial, desta vez recém-plantado 45 metros acima, no centro do Memorial de Natal, para onde uma van nos leva num passeio. Do alto do obelisco que agora preserva uma área das dunas ameaçada pela especulação imobiliária, vemos a cidade derramando-se em torno. Presto atenção nas histórias do legendário ex-deputado Sebastião Nery, que nos acompanha – dono de uma memória giratória, jura lembrar de mim 40 anos atrás, num encontro em Curitiba com Philomena Gebran e W. Rio Apa. O melhor foi um jantar à noite com Carlos Heitor Cony, provavelmente o escritor com mais páginas rodadas na história do Brasil. Confessou que, numa época, chegava a escrever oito crônicas por semana, e que às vezes batia-lhe o desespero da falta de assunto. Claro que, cronista aprendiz, o tema me interessou profundamente. “E quando falta assunto?”, perguntei.
– Quando falta assunto, escrevo uma frase qualquer e sigo adiante.
Atento à voz do mestre, acabo de testar a receita. Parece que dá certo.
Cristovão Tezza é escritor.