domingo, 19 de julho de 2009

País emergente, educação submersa...


Marcos Bagno - Abril de 2009
A Coreia do Sul tem uma população 7 vezes menor que a dos Estados Unidos. No entanto, a cada ano, ela forma o mesmo número de engenheiros que os EUA. Num programa internacional de avaliação, os sul-coreanos ficaram com o 1o lugar em solução de problemas, 1o em leitura, 3o em matemática e 7o em ciência. Em 1945, a taxa de alfabetização no país era de 22%, hoje é de 99%. É o que acontece quando uma nação mobiliza todos os seus recursos em favor da educação. Corta.

Em 2007, divulgou-se o INAF (Indicador de Analfabetismo Funcional): 75% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são incapazes de ler e interpretar adequadamente um texto simples. Se somos hoje quase 200 milhões, significa que 150 milhões são analfabetos funcionais, isto é, pessoas que tiveram acesso à escolarização mas não desenvolveram plenamente as habilidades de leitura (e de cálculo também), o equivalente às populações somadas da França e da Alemanha.

Esses dados não seriam suficientes para escandalizar nossas classes dirigentes? Não. A história da nossa formação social mostra que, há meio milênio, as classes dirigentes brasileiras não só não se escandalizam como tiram o máximo proveito desse abismo social que separa o pequeno círculo dominante da monumental maioria de classes subalternas. Os dados do analfabetismo funcional "coincidem" com os da distribuição (distribuição?) de renda em nosso país, a mais injusta do planeta.

O desenvolvimento econômico do Brasil nos últimos anos e sua crescente importância no panorama internacional - comprovada pela sigla BRIC, iniciais dos "países emergentes" - em nada se fazem acompanhar de um desenvolvimento social que mereça o mesmo destaque. Somos uma nação onde o elemento africano tem um profundo impacto na nossa história musical, religiosa, culinária, afetiva, linguística etc., mas continuamos profundamente racistas. Somos o país em que as desigualdades de salários entre homens e mulheres é das maiores do mundo. Temos um genocídio diariamente praticado contra os adolescentes pobres, negros em sua maioria, eliminados por traficantes e pela polícia. Um sistema carcerário que arrancou lágrimas do observador da Anistia Internacional, que o qualificou de "inferno". E, é claro, uma forte liderança entre os países mais corruptos.

Mais sinistro é comprovar, como as pesquisas vêm mostrando, que a maioria do nosso professorado também se inclui naquele apavorante índice de analfabetismo funcional. Procurados hoje em dia pelos estudantes de origem mais humilde e de baixíssimo letramento, os cursos de licenciatura continuam desconhecendo a realidade social de seu alunado, e vão diplomando milhares de pessoas sem habilitações mínimas para exercer a profissão docente. Já coletei centenas de textos escritos por professores da rede pública do Distrito Federal (maior renda per capita do país) e me surpreendi com sua quase absoluta incapacidade de escrever vinte linhas sobre o próprio ofício.

Enquanto nossas elites governantes ficam se divertindo com BRIC pra lá e G-20 pra cá, incomodadas apenas com as altas e baixas das bolsas, 75% dos brasileiros se veem desde sempre excluídos de qualquer progresso real no plano da cidadania. É triste viver num país emergente com uma educação submersa...

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