sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Amenidades

Hoje tive mais um dia de aula na turma de Matemática. Foi tudo tranquilo. A turma é boa e conseguimos sempre interagir bem. Eles são interessados e sinto-me muito à vontade para trablharmos. Sempre gosto de criar um clima agradável onde quer que esteja. Acho isso importante, pois se a vida é curta, não tem porque não vivê-la bem cada instante. Saí de sala com a sensação do dever cumprido e com a certeza de que nos encotraremos brevemente. Ah, levei um texto de Ruth Rocha do qual gosto muito para leitura compartilhada. Foi ótimo!! Segue abaixo.


Apanhei assim mesmo...


Ruth Rocha


Precisa de ver como o meu pai é bravo!
Ele nem pergunta muito...
Qualquer coisa e a gente já leva uns safanões.
Mas minha madrinha sempre dá um jeito de me livrar das encrencas que eu apronto.
E quando eu apronto, eu apronto, mesmo!
Neste dia que eu estou contando foi assim.
Apareceu na minha casa um cara, que era meio parente do meu pai.
E quando ele foi embora eu descobri que ele tinha esquecido um maço de cigarros inteirinho.
Eu nunca na minha vida tinha fumado.
Todos os meninos da minha classe já tinha fumado e eles viviam gozando da minha cara por isso.
Eu queria fumar, nem que fosse pra dizer pros outros.
Então eu roubei o maço, quer dizer, roubei não, que achado não é roubado. Eu achei!
Arranjei uma caixa de fósforo na cozinha, escondi o maço e fui pro fundo do quintal.
Subi no muro, que eu gostava muito de ficar encarapitado no muro.
Então eu peguei o maço de cigarros e comecei a fumar.
Pra falar a verdade eu achei uma droga! Mas eu já sabia que no começo a gente acha uma porcaria. A gente tem que insistir, até acostumar. Não é fácil não!
Eu fui fumando, fumando, fui tossindo, tossindo, até que eu comecei a enjoar.
Mas eu não parei, que ser homem não é mole!
Eu ia acendendo um cigarro atrás do outro. Cada vez que um cigarro ia acabando eu acendia outro, que nem meu pai faz.
Aí eu não vi mais nada!
Depois me contaram que eu caí do muro, do outro lado, na casa de dona Esmeralda.
Quando dona Esmeralda me viu caído no meio do quintal, com uma porção de cigarros espalhados em volta de mim, viu logo o que tinha acontecido. E pensou que se chamasse meu pai eu ia entrar na maior surra da minha vida.
Então ela chamou minha madrinha que, como eu já disse, costumava me livrar das minhas trapalhadas.
Minha madrinha veio correndo.
Então ela e dona Esmeralda me levaram pra dentro, passaram água fria na minha cara, até que eu acordei. E eu vomitei uns quinze minutos.
Minha madrinha estava muito assustada, que ela disse que eu estava cheirando cigarro puro, e que o meu pai ia me matar de pancada se eu voltasse pra casa daquele jeito.
Então ela fez eu lavar a boca, foi até lá em casa buscar a minha escova de dentes...
Mas não adiantava nada...
Então dona Esmeralda veio lá de dentro com um copo de pinga. Ela disse que a melhor coisa pra tirar cheiro de cigarro é pinga.
E me fez lavar a boca com pinga, até que ela achou que eu não estava mais cheirando cigarro...
Aí eu e minha madrinha voltamos pra casa.
A gente entrou de mansinho pra não chamar a atenção do meu pai.
Ele estava sentado no sofá, vendo televisão.
Eu passei por trás dele e fui indo pro meu quarto, bem devagar...
Meu pai nem olhou pra trás.
- Tuca, - meu pai chamou – vem cá.
Precisa de ver que surra que eu levei! Meu pai achou que eu tinha tomado pinga!

Disponível em: http://www2.uol.com.br/ruthrocha/historias_12.htm. Acesso em: 30.09.2010

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