Acho sensacional esse texto do Manuel Bandeira.
“Ciro conta que:
─ Quando X assumiu o governo do Estado, tratou logo de colocar seus amigos, que eram numerosos e andavam bem esfomeados. A mudança de política permitiu demitir muita gente, que foi substituída pela gente do novo governador. Eis que, quando já não sobrava lugarão de encher os olhos e o bolso, chegou do interior do Estado mais um amigo do governador, amigo de infância a quem era impossível deixar de atender.
─ Mas também você se meteu naqueles cafundós, nunca mais deu notícia de si, ponderou o governador. Agora os melhores lugares já estão preenchidos. Em todo o caso, vou pensar no caso. Dê-me uns dias e apareça.
Três dias depois, o amigo voltou ao Palácio. Foi recebido com efusão.
─ Arranjei uma coisa ótima para você, disse o governador. Uma sinecura! Você vai ser professor de grego no Ginásio do Estado.
Afinal, na véspera de se encerrarem as matrículas, surgiu um desalmado que desejava aprender grego para ler Homero no original. O professor ficou aterrado e correu para o Governador. Queria a demissão imediatamente, para não ficar desmoralizado.
─ Arranje-me outra coisa, pediu aflito o amigo.
Não foi preciso outro lugar para o amigo do governador. Ele continuou como professor de grego. O aluno é que desistiu. Isto é, não desistiu, foi preso e expulso do Estado como comunista. A notícia se espalhou e nunca mais apareceu ninguém no Ginásio com veleidades de aprender grego.
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